20/09/2021
Povo que não tem virtude acaba por escravizar. Leia nosso posicionamento nesse 20 de setembro
por Comitê Gaúcho de Assistentes Sociais na Luta Antirracista
No dia 20 de setembro se comemora a "Revolução Farroupilha". Uma narrativa que ao mesmo tempo que exalta a cultura gaúcha de "virtudes", de um povo que "não se deixa escravizar", mas que, na verdade, é uma romantização da luta dos estancieiros - a classe dominante do período - pelos seus negócios, nega um fato histórico do qual não há nada para ter orgulho.
A insatisfação dos estancieiros com as taxas de comercialização de seus produtos desencadeou um conflito iniciado em 20 de setembro de 1835.
Diferente do que se conta, essa luta interessava somente às elites, que para atingir seus objetivos econômicos prometeu a muitos pretos escravizados a liberdade, caso lutassem contra o Governo Imperial. O pelotão conhecido como Lanceiros Negros foi responsável por diversas vitórias, sendo considerado o mais disciplinado e aguerrido da guerra.
Quando se aproximou o fim do conflito, pois os interesses dos proprietários estavam sendo contemplados em acordo com o Governo Imperial, colocou-se uma questão que representava grande risco: “o que poderiam fazer os Lanceiros Negros ao não receberem a prometida liberdade?”. O Massacre de Porongos foi a resposta dos "líderes farrapos" para neutralizar qualquer ameaça a seu domínio.
Desse modo, o 20 de setembro exalta uma cultura necessariamente branca, conservadora, orgulhosa de um passado glorioso que se ampara, na verdade, no assassinato dos principais soldados da "Revolução", que lutaram por dez anos pela sua libertação.
A história do 20 de setembro, não pode ser contada sem os Lanceiros Negros e deve ser uma reflexão sobre como o racismo se constituiu e se reproduz ainda hoje. Como a violência se manifesta na precarização do trabalho, pelo braço armado do Estado burguês, o racismo institucional, a exclusão da contribuição negra na cultura gaúcha, entre tantas outras.
Assim, reforçamos o compromisso ético-político das/os trabalhadoras/es assistentes sociais e a necessidade de fortalecermos a Luta Antirracista, Classista e Anticapitalista em um contexto que esmaga a classe trabalhadora, principalmente as/os trabalhadoras/es pretas/os. No nosso 20 de setembro reivindicamos:
Viva a memória e luta pela libertação dos Lanceiros Negros, que ainda continua viva em nós!
Foto: Imprensa CRESSRS