Falaremos de ‘’revolução ‘’ quando a mesma for da população negra, das mulheres, das comunidades tradicionais e dos demais seguimentos da classe trabalhadora. A Revolução Farroupilha, que teve seu início em 1835, teve como objetivo principal atender os interesses políticos e econômicos da burguesia gaúcha, que se posicionava contra as altas taxas de impostos do império português.
Nesta guerra entre ‘’elites’’, homens negros foram convocados a participar em troca da liberdade pós-guerra pela República Riograndesse, sendo esta uma falácia da burguesia branca gaúcha. Esses homens negros, cujos corpos estiveram a frente das batalhas, foram chamados ‘’Lanceiros Negros’’ e, futuramente, seriam traídos e entregues em ato covarde para serem mortos pelo império português.
A luta por liberdade custou a vida dos nossos ancestrais. A eles foi prometido o direito à vida e foi concedida a morte a todos/as que na noite de 14 de novembro de 1844 estavam na cidade de Pinheiro Machado, bem como o sangue das suas gerações. Não há romance e não há processo algum de vitória. A história nos mostra que o genocídio, nesse estado, há mais de 400 anos possui raça etnia como fator principal de sua sustentação.
Falar dos Lanceiros Negros é falar de luta, sangue e o anseio por liberdade. A liberdade manifesta-se como valor central no código de étnica do Assistente Social, sem ela não há garantia mínima de direitos humanos. Faz-se necessário olhar a história de forma crítica sob a lente daqueles e daquelas que lutaram e lutam pelo direito à vida. É impossível negar que a questão social no Brasil está intimamente arraigada à questão racial, uma vez que surge no período colonial com a escravização dos povos pretos e indígenas.
Muito antes das estruturas estratégias de resistência da classe trabalhadora existirem no Brasil – sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos – os processos de resistência dos povos pretos e indígenas já ocorriam, articulando saberes ancestrais contra a cultura do capital. A questão social no contexto brasileiro é fruto das contradições de um capitalismo racializado e patriarcal, em que as relações são produzidas e reproduzidas através destes processos sociais. Portanto, analisar a questão social no Brasil sem considerar as repercussões culturais e sociais do colonialismo europeu na história do país é, além de genérico, uma forma de silenciar toda a luta das comunidades tradicionais e dos povos originários que sobreviveram a esse sistema.
’Povo que não tem virtude acaba por escravizar’’ .
David Petar da Conceição Mantalof é trabalhador do SUS no Hospital Santa Ana - AESC. Servidor na FASC/PMPA. Milita na Frente de Enfrentando a Mortalidade Juvenil.