20/02/2024
por Imprensa CRESSRS
No recente Carnaval de São Paulo, a Escola de Samba Vai-Vai foi criticada pelo sindicato dos delegados de polícia de São Paulo por levar para a Avenida uma ala com policiais vestidos de demônios, em alusão ao comportamento violento e ostensivo das polícias. Muitos políticos conservadores apoiaram a nota dos delegados e quiserem prejudicar a Vai-Vai. Passando poucos dias desta discussão, que ganhou força em todo Brasil, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul vem provar que a Escola de Samba paulista não estava errada ao retratar a instituição policial como agressora. Isto porque, um caso de racismo que eles dizem ser isolado, mas que acontece cotidianamente, ganhou as redes sociais após um vídeo ter sido publicado com um entregador de aplicativos sofrendo um ataque da BM, quando na verdade ele era a vítima da situação.
Neste último sábado (17), Everton Goandete da Silva, homem negro, estava reunido com outros entregadores de aplicativos, no bairro Rio Branco em Porto Alegre, quando sofreu uma tentativa de homicídio por um homem branco, que feriu Everton com uma facada em seu pescoço. Lamentavelmente, a pessoa algemada e detida pela Brigada Militar foi o próprio Everton, ao fazer a denúncia. É possível ver no vídeo o homem branco sorrindo, conversando com a policial enquanto o homem negro está sendo truculentamente levado para a viatura.
Para o CRESS RS e inúmeras outras entidades, bem como grupos de movimentos sociais, este foi mais um caso de racismo institucional, dentro de uma sociedade onde o racismo é estrutural e estruturante. É primordial reconhecer que vivemos em um contexto de desigualdade social, racial e econômica, para que se possa alcançar medidas efetivas de reparação histórica. Também é urgente assumir que as polícias no Brasil têm caráter violento e racista e que é necessária uma mudança desse paradigma.
Uma pesquisa do Departamento e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos sobre policiamento ostensivo e relações raciais, realizada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal e divulgada em 2020, aponta que o corte de cabelo, o estilo da roupa, o modo de andar, o jeito de olhar e a relação entre corpo e território são algumas características apontadas por oficiais da BM para definir pessoas suspeitas e que são abordadas no trabalho rotineiro de patrulhamento da cidade de Porto Alegre. O estudo foi feito a partir da análise de dados quantitativos de prisões em flagrante e letalidade policial por cor ou raça, e entrevistas com policiais militares sobre o tema polícia e racismo, com o intuito de entender o que policiais brancos e negros pensam sobre o assunto.
É preciso que as autoridades também defendam que os agentes da segurança pública precisam rever suas condutas de abordagem a tratamento aos cidadãos. Neste episódio do Everton, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), foi criticado por ter tido uma conduta conivente com a injustiça sofrida. Em seu perfil no Twitter, Leite afirmou que renova sua absoluta confiança no Brigada Militar ao se pronunciar sobre o assunto.
O deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) e a deputada estadual Laura Sito (PT) mencionaram em suas redes que já houveram propostas de inclusão de uma “Política de Letramento Racial” para a BM e a Polícia Civil. O mandato do Matheus propôs para o orçamento de 2024 da Assembleia Legislativa uma emenda para o curso de Letramento Racial, mas a base de deputados pró-governo Leite derrubou a medida.
Foi o apoio da sociedade civil, que fez um ato público em sua defesa no domingo (18), e de advogados que assumiram a situação, que fizeram com que o motoboy Éverton fosse liberado sem mais problemas, mas os policiais imputaram o crime de desacato e alegaram resistência à prisão. Ouviram o agressor no BO, mas não a vítima. Por isso, não citaram a tentativa de homicídio.
É inaceitável a distorção e manipulação dos fatos que corrobora com o racismo embutido na situação. Seguiremos em luta por uma sociedade sem racismo e livre de opressões. Por um Serviço Social que combata esta prática em todos os espaços sócio ocupacionais de atuação.
Descrição da Imagem: Card amarelo,laranja e preto com a imagem do punho cerrado da campanha Assistentes Sociais no Combate ao Racismo e com a frase Solidariedade ao Everton Caso ocorrido no RS, expõe o racismo institucional e a criminalização do povo negro. Logotipo do CRESS RS.