Neste domingo, dia 27 de novembro, a assistente social Maria Ribeiro Tavares comemorou seu centenário. Servidora do Governo do Estado, matriculou-se na primeira turma da Escola de Serviço Social, no Rio Grande do Sul, ainda sem saber ao certo o que era esta profissão. Numa entrevista concedida ao CRESS/RS em 2006, quando foram festejados os 70 anos do Serviço Social, ela contou sua história:
"Eu queria trabalhar com um público para o qual ainda não houvesse qualquer tipo de assistência, mas não sabia qual. Então um dia encontrei uma mulher caída na rua. Eu a socorri e fiquei sabendo que ela queria muito ter notícia dos filhos, que estavam na Casa de Detenção havia anos. Fui até lá, mas não me deixaram entrar, porque mulher não tinha acesso àquele lugar. Pensei: 'este é um público totalmente desassistido. Eu vou entrar lá'". Determinada, procurou o interventor do Estado, General Dornelles, ainda no Governo Vargas, que concedeu a licença para o trabalho. A partir daí, começou a buscar informações dos familiares dos presos, a revisar sentenças (muitas já haviam sido cumpridas há anos e outras eram totalmente descabidas), a recrutar presos para trabalhar como operários em empreendimentos da capital.
O trabalho de Maria Tavares, de 1944 a 1987, recuperou 5.025 pessoas. Apenas seis reincidências aconteceram neste período em que trabalhou sozinha. E com recursos próprios! "Eu tinha uma situação financeira muito boa, mas em 1987 meu dinheiro acabou, então tive que fazer um convênio com o Governo do Estado para continuar trabalhando lá. Eles nomearam três assistentes sociais para trabalhar comigo. Fiquei na Casa de Detenção até a sua extinção, no Governo Brizola".
Maria Tavares começou a trabalhar na Casa de Detenção com pouco mais de 20 anos. A situação do lugar era desumana, como lembra. "Existia apenas um banheiro para 1.800 presos. Muitos entravam e saiam da penitenciária sem ter tomado um único banho. Os que tinham dinheiro para pagar, tomavam um banho por mês. O cheiro lá dentro era terrível. As doenças se proliferavam, assim como os ratos e os piolhos. Eu cuidava dos presos na enfermaria, convivia com doenças de pele que nem imaginava que existisse. Muitos tinham tuberculose. Mesmo assim, nunca adoeci". (...)
Hoje, Maria Tavares é conselheira, mãe e amiga dos presos que cumprem pena na Fundação Patronato Lima Drummond onde mora e da qual é fundadora. "Não há ser humano que não tenha uma coisa boa no coração, por maior que seja o crime cometido. E é preciso saber quais foram os motivos que levaram aquela pessoa a cometer um crime. Identificando estas duas coisas, é impossível não recuperar uma pessoa". (...)
(Alguns trechos da entrevista concedida em 20/10/2006 para o jornal CRESS Informa)
Saiba mais:
Coluna do Tulio Milmann - ZHSite da ONG Fui PresoSite do Patronato Lima DrummondPor Vanessa Martins, jornalista MTB 11584.
Assessora de Comunicação CRESS/RS