14/08/2023
por Imprensa CRESSRS
Pesquisa inédita realizada no estado, denominada “Perfil, Formação e Trabalho Profissional de Assistentes Sociais no Rio Grande do Sul” aponta que as principais características identitárias das/os assistentes sociais do RS são, predominantemente, de uma profissional do sexo feminino, jovem, branca/o, residente na cidade em que trabalha e com alguma filiação religiosa. Essa pesquisa foi realizada por pesquisadores/as da Universidade Federal do RS (UFRGS) e da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) e pelo CRESSRS - triênio 2017/2020. A coordenação é da professora Tatiana Reidel.
A obra coletiva sistematiza e analisa dados coletados por questionário enviado às/aos assistentes de base do CRESSRS, em sua maioria ligadas/os aos NUCRESS, mas não necessariamente, e por grupos focais realizados com profissionais das seccionais do CRESSRS, assim como com representantes dos 30 NUCRESS de todo estado, ativos, no momento da pesquisa. Foram, ao todo, 8.503 questionários enviados e 2.930 respostas, sendo 2.411 dos questionários preenchidos por e-mail, 500 respostas do link do WhatsApp e 19 pelo Facebook.
“Esta obra, que ora vem a público, é uma contribuição consistente e relevante para o fortalecimento da direção ético-política do projeto profissional do Serviço Social comprometido com a defesa e o alargamento de direitos da classe trabalhadora, da qual fazem parte os/as assistentes sociais”, definiu a docente e pesquisadora da PUCSP, Raquel Raichelis no prefácio do Livro que sistema os achados da pesquisa. Após analisados, os dados e os achados da pesquisa foram organizados em 6 blocos que se constituíram como capítulos, sendo eles: 1) Perfil Profissional; 2) Formação Profissional; 3) Trabalho Profissional; 4) Estágio em Serviço Social; 5) Educação Permanente e 6) Entidades Político-Organizativas da Categoria.
Na avaliação do perfil da categoria, de acordo com a pesquisa, são nas cidades de Porto Alegre, Caxias do Sul e Santa Maria que mais residem os/as assistentes sociais gaúchos/as, onde 30,17% dos/das profissionais não exercem sua atividade laboral no município de sua residência. Em relação à idade dos/das assistentes sociais do RS destaca-se que a maior faixa etária concentra-se nas pessoas de 30 a 39 anos. Em relação à identidade de gênero, identificou-se que a categoria dos/as assistentes sociais é massivamente representada pelo gênero feminino, mais especificamente por 93,79% das profissionais e que 0,04% autodeclaram-se como travesti e 0,04% como pessoa não binária.
No que se refere à cor e à etnia autodeclaradas pelos/as assistentes sociais, constatou-se que a maior parcela dos/as profissionais no estado do Rio Grande do Sul se autodeclara como sendo da cor branca (82,77%). 17,23% dividem-se em pessoas que se autodeclaram como pardas (8,85%), pretas ou negras (7,55%), amarelas (0,47%), indígenas (0,18%) e demais grupos (0,18%).
No que se refere à instituição de formação dos participantes da pesquisa, constatou-se que um número significativo é egresso de UFAS que ofertam o curso no Rio Grande do Sul, sendo a maioria egressos da ULBRA (18,18%), da PUCRS (11,68%), da UNOPAR (8,17%), da UNISINOS(7,24%) e da ANHANGUERA (5,51%). A UFRGS registrou 1,92% de egressos e a UFSM 1,59%. No que se refere à modalidade de ensino dos/as participantes da pesquisa, constatou-se que a maioria é egressa de cursos que ofertaram a formação na modalidade presencial (76,42%), seguida da modalidade à distância (12,05%) e da semipresencial (11,53%). Em outro aspecto, 23% dos/as participantes possuem formação pós-graduada em nível de especialização, apenas 8% possuem mestrado e 3,7%, doutorado, revelando a necessidade de ampliar a oferta de formação continuada.
Em relação às configurações do trabalho dos/das participantes da pesquisa, embora elas/es, na sua grande maioria, tenham-se mostrado satisfeitos/as com as estruturas ofertadas no trabalho, ficou evidenciado em suas expressões o crescimento avassalador do sobretrabalho, a ampliação progressiva de contratações precárias e o pouco investimento em formação permanente. Isso tem significado a ampliação progressiva do trabalho precário, do desemprego e do desalento que atinge não só ao/à assistente social, mas ao conjunto dos/as trabalhadores/as. Isto comprova-se em relação aos principais desafios e dificuldades para o exercício profissional no espaço sócio-ocupacional, a precarização e a pressão para a intensificação do trabalho, constituem-se na principal dificuldade apontada pelos/as pesquisados/as, com 40% das respostas.
O estudo também mostra que a grande maioria (79,4%) dos/das pesquisados/as trabalha na área do Serviço Social. O restante (20,5%), justificam não estarem inseridos/as como assistentes sociais no mercado de trabalho porque há poucas ofertas de vagas (33,9%), por estarem estudando para concursos públicos (14%), por estarem aguardando a chamada para ingresso em concursos (7%), por não terem sido aprovados/as em ou porque não abriram vagas para tais concursos (7,3%). Apenas 0,5% dos/as pesquisados/as mencionou o fato de não ter se identificado com o trabalho ou não sentir-se em condições de assumir o trabalho como AS. Pode-se inferir, portanto, que boa parcela da categoria almeja inserir-se em espaços sócio-ocupacionais vinculados ao setor público, confirmando uma tendência histórica da área.
Em relação à quantidade de vínculos empregatícios, identificou-se que dos/as 1.915 assistentes sociais que responderam a esta questão, a grande maioria (80,05%) possui somente um vínculo, sendo pequena a incidência de duplo vínculo (11,07%). Chama a atenção, embora com percentual reduzido em relação ao total, que 0,94% dos/as profissionais têm de 3 a 4 vínculos de trabalho. No que se refere à carga horária de trabalho exercida, identifica-se a predominância da faixa de 31 a 40 horas semanais (44,28%), seguida pela de 25 a 30 horas semanais (27,47%). Quanto ao tipo de vínculo empregatício, 46,21% são estatutários, 29,66% celetistas, 6,21% contrato temporário e 2,98% autônomo. No que tange a remuneração mensal dos/as assistentes sociais, verifica-se a predominância das faixas salariais de R$2.001,00 a R$4.000,00 (39,63%) e de R$4.001,00 a R$7.000,00 (27, 36%).
Por outro lado, esta pesquisa abordou a configuração do processo de supervisão em estágio em Serviço Social, como importante ferramenta na relação entre a formação profissional e o trabalho dos/as assistentes sociais. Foi apontado que 69,00% das respostas supervisionam 1 estagiário, enquanto 21,02% supervisionam dois e 8,06% supervisionam 3. É importante lembrar que a carga horária de trabalho de 30 horas semanais do/a Assistente Social, conforme dispõe a Lei nº 12.317/2010; assim, cada supervisor/a deveria ter, no máximo, três estagiários/as, por isso é preocupante ver que 0,70% supervisionam 4 estagiários e 1,23% supervisionam 5 ou mais.
No que se refere à carga horária semanal de supervisão no campo de estágio, observa-se uma variação significativa, o que possibilita refletir sobre as condições de trabalho referidas anteriormente, o significado e as formas de exercício dessa supervisão. São 20% os/as profissionais que referem o tempo de supervisão ser de até duas horas semanais e, com esse mesmo percentual, o tempo de 4 horas. Cerca de 15% dos/as profissionais referem que o tempo de supervisão semanal é de 1 hora. Esse mesmo índice é encontrado para a carga horária de supervisão de 6 e 10 horas. Menos de 10% dos profissionais realizam a supervisão com até 3 horas semanais, e menos de 5% dos/as respondentes referem de 5 até 7 horas semanais.
Em relação à participação nos fóruns de estágios, espaços de educação permanente que possibilitam aglutinar docentes, profissionais e estudantes em torno das questões do estágio, preocupa a pouca incidência já que 87,27% de supervisores/as não participam da instância, enquanto 12,73% se fazem presentes. Diante do exposto, os/as pesquisadores/as ressaltam que o estágio curricular obrigatório é um componente elementar na formação em Serviço Social, tendo em vista o processo de aprendizagem das dimensões constitutivas da profissão e a apreensão da realidade em suas múltiplas facetas, objetivando a intervenção qualificada diante das manifestações da questão social e que pensar o processo de supervisão coerente com o projeto ético-político requer afirmar compromisso com a concepção de luta pela efetivação da educação como instrumento de transformação da vida social.
Já no Serviço Social e na educação permanente, o coletivo de assistentes sociais que participou da referida investigação reafirmou a importância de participar dos processos educativos. Considerando a análise das respostas, o contingente maior de assistentes sociais que buscam qualificação é por meio da pós-graduação stricto sensu, em nível de mestrado e doutorado. Para os/as assistentes sociais do RS que participaram da pesquisa, quando questionados/as sobre a modalidade de educação permanente de que têm interesse em participar, constata-se que 71,66% citam os cursos de curta duração; 65% os seminários e 59,41% os cursos de especialização. Também são indicadas as oficinas teóricas e práticas por 57,18% de pessoas.
Embora com menor relevância, é fundamental destacar outros espaços reconhecidos pelos/as profissionais como possibilidades de educação permanente: 47% dos/as participantes fazem referência às rodas de conversa; 34% destacam os cursos de mestrado; 33,52% destacam grupos de supervisão profissional. Os dados também evidenciam a relevância da educação continuada quando 16,26% dos/as participantes da pesquisa destacam os cursos de doutorado.
Chegando quase ao fim da pesquisa, mas não menos importante está o campo assistentes sociais e as instâncias político-organizativas. Foram apontados dados acerca da baixa participação de AS na gestão das entidades. Conforme a pesquisa, 6,97% das/os profissionais mostraram-se muito insatisfeitos/as com as organizações como o CRESSRS, 15,96% insatisfeitos/as e 34,75%, nem satisfeitos/as, nem insatisfeitos/as em relação a essa entidade. Por sua vez, 37,85% mostraram-se satisfeitos/ as e 4,47% muito satisfeitos/as.
Quanto à participação dos/as assistentes sociais gaúchos/as na gestão das entidades, a maior incidência é no CRESSRS, que possui participação de 87,4% dos respondentes. Eles/as ocupam diferentes espaços no conselho, sendo 82,91% frequentadores/as do NUCRESS, 14,96% dos GTs e 10,9% das comissões. Mas a participação da categoria não se dá somente nesses espaços, pois compreende a participação nas assembleias gerais e em demais eventos e atividades promovidas pelo Conselho ou ofertadas em parceria com os NUCRESS, as UFAS e as instâncias representativas da profissão.
A pesquisa ainda elencou os principais espaços de participação política dos/as assistentes sociais gaúchos/as. Foi identificado que a grande maioria (32,34%) é sindicalizada e 44,61% da categoria está inserida em partidos políticos, enquanto 28,86% participa de algum fórum de trabalhadores/as e 19,83% frequentam Associação de Trabalhadores. Considerando a participação dos/as assistentes sociais nos espaços no campo dos direitos humanos e das políticas sociais, 57,66% manifestaram participação. Em contraponto, 43,34% afirmam não participar. Por outro lado, é importante observar como se dá a representação, pois, daqueles/as 1.817 respondentes, apenas 21,79% estão nos espaços de representação da categoria, e 78,21% compõem outras representações.
Esses são alguns dos muitos achados desta pesquisa. Para ver o trabalho completo, baixe o Ebook aqui: PESQUISA-UFRGS-PUCRS-CRESSRS.pdf.