31/07/2015
Os trabalhadores da assistência social repudiam as reportagens da Zero Hora do dia 26 de julho (“Vítimas de Abrigos” e “Casas nada Especiais”) e do dia 27 de julho (“Maus Tratos e Abusos”).
por Assessoria de Comunicação do SIMPA
As matérias culpabilizam/criminalizam os trabalhadores dos serviços de acolhimento institucional que convivem com condições de trabalho precárias e desgastantes, decorrentes das superlotações, morosidade no sistema de justiça, ausência de retaguardas para as demandas de saúde mental, de educação, habitacional e cultural. Situação que os próprios trabalhadores denunciam há tempos, através do SIMPA.
Não compactuamos com qualquer tipo de violação ou maus tratos e defendemos a apuração dos fatos e a punição dos envolvidos. No entanto, as matérias, apesar de reconhecer que 96% dos trabalhadores não estão envolvidos, de forma tendenciosa relacionam negligências e maus tratos praticados por trabalhadores, sem debater efetivamente a situação da infância e juventude em nosso estado e município.
A situação das crianças e adolescentes reflete a falta de prioridade de investimentos por parte da FASC, dos governantes, passados 25 anos do ECA - Estatuto da Criança e Adolescente. A realidade dos abrigos é a ponta do iceberg do abandono, reflexo da omissão dos governos, das instituições e instâncias/organismos de controle e fiscalização, que deveriam garantir direitos e proteger de forma integral essas crianças.
Assim, as reportagens, ao atacar técnicos e educadores, exime os governos, os gestores, as instâncias de controle social, de fiscalização e o sistema de justiça de suas responsabilidades. Ataca os trabalhadores que vêm fazendo resistência frente à falta de condições, ausência de equipamentos e recursos humanos para prover atendimento de qualidade. Trabalhadores que efetivam uma prática social difícil e complexa, de consequências multifatoriais (violência, saúde mental, abandono), com poucas retaguardas intersetoriais. Convivem com a ausência de outras políticas intersetoriais de proteção à família, pois o acolhimento institucional, que é a última medida protetiva, em muitos casos, é a primeira e única opção dessas crianças.
Preocupa a lógica privatista da matéria, visto que é a principal estratégia utilizada pelos governos para se descomprometer com investimento público de qualidade. Temos a convicção de que as medidas necessárias para melhorar a realidade das crianças e adolescentes desses serviços não passam pela sua privatização, sugeridos como a opção de menor custo e de maior qualidade. A privatização desse atendimento coloca a condição dos trabalhadores em situação mais precária, tanto salarial – muitas vezes, exige que o trabalhador ocupe outro trabalho para complementar sua remuneração -, como de sobrecarga de trabalho e falta de investimento em capacitação.
O cotidiano do trabalho tem mostrado que os serviços privados, de modo geral, estabelecem um processo de trabalho que prioriza “perfis” de crianças e adolescentes para permanecer na instituição. Por outro lado, os abrigos Quero-Quero e João de Barro – mencionados em Zero Hora -, acolhem adolescentes revitimizados, com histórico de outros acolhimentos, egressos da FASE, que não se “adaptam” às entidades que muitas vezes solicitam transferências alegando “problemas de conduta”.
Nós, trabalhadores, há mais de uma década lutamos pela consolidação do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), pela efetividade das políticas de proteção as crianças e adolescentes e suas famílias, por condições de trabalho e não recuaremos diante desses ataques que querem desresponsabilizar estados, governos e outros operadores de direitos culpabilizando os trabalhadores.
Foto: Arte ZH / Agência RBS