25/07/2024
por Ana Lúcia Magalhães*
“Minha escrita é contaminada pela minha condição de mulher negra” (Conceição Evaristo)
Refletir sobre o dia 25 de julho, momento que é celebrado o Dia de Tereza de Benguela e Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, é reconhecer e reforçar a contribuição significativa e histórica das mulheres negras em nossa sociedade. No dia 02 de junho de 2014, a data 25 de julho foi instituída por intermédio da Lei nº 12.987, como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A homenagem à Tereza de Benguela, uma liderança quilombola que é exemplo de força, resistência, luta e referência ancestral de organização para milhares de mulheres que sobrevivem à dura realidade das seqüelas da colonização, enraizadas de forma concreta através do racismo estrutural nos dias atuais. A trajetória de Tereza, mulher negra, esposa de José Piolho, se entrelaça com o contexto perverso do cenário de escravidão daquela época, sua libertação e liderança de escrava à rainha.
Após a morte de seu marido, Tereza de Benguela, assume a liderança do Quilombo do Quariterê no Vale do Guaporé, atual estado do Mato Grosso e passa a ser conhecida como “Rainha Tereza”. No comando da maior comunidade quilombola de libertação de negros e indígenas da capitania, Tereza permaneceu como líder por vinte anos, lutando pela vida de mais de cem pessoas. A estrutura de organização do quilombo era distribuída por setores administrativo, econômico e político, considerado similar a um parlamento, com conselhos deliberativos. Reiterando em nossa sociedade contemporânea a importância de debates como o protagonismo da mulher, em especial, da mulher negra, em espaços de liderança e poder, legado da trajetória de mulheres negras como da Rainha Tereza.
Rememorar a trajetória de Tereza de Benguela e evidenciar a luta das mulheres negras é um compromisso das/dos assistentes sociais, sobretudo convocando a categoria a estar implicada no combate ao racismo. Nesse contexto, nosso conjunto CFESS-CRESS tem realizado, ao longo dos últimos 10 anos, ações através de campanhas, normativas, publicações, notas técnicas sobre o trabalho profissional da/do assistente social na Luta Antirracista. Bem como, a instalação e/ou fortalecimento nos regionais dos Comitês de Assistentes Sociais na Luta Antirracista, o aprofundamento de conceitos, estratégias e entendimentos de forma permanente e continuada do debate e a importância da transversalidade do tema nas diversas áreas e políticas públicas que a categoria está inserida.
No entanto, precisamos avançar ainda mais, seguindo os princípios que balizam o trabalho profissional, com base no Código de Ética, Projeto Ético-Político e Bandeiras de Luta através de práticas efetivas de ruptura com os processos de preconceito, exclusão, desigualdade racial, problematizando assim, os desafios constantes enfrentados pela população negra no acesso e efetivação da garantia de direitos, olhando para o passado, ressignificando o presente para a construção do futuro com justiça social e equidade.
Somos todas Tereza, Alquatune, Dandara e Marielle.
Por nós, por todas nós cada uma delas vive presente.
Salve o Julho das Pretas.
Salve a resistência das mulheres negras.
*Ana Lúcia Magalhães é mãe, mulher negra, assistente social, vice-presidenta do CRESS-RS e coordenadora do Comitê Gaúcho de Assistentes Sociais na Luta Antirracista