28/05/2016
Memória, emoção, comprometimento e disposição para lutar marcaram o 10° Encontro Gaúcho de Assistentes Sociais, realizado nos dias 19 e 20 de maio, na PUCRS.
por Assessoria de Comunicação do CRESS
O 10° Encontro Gaúcho de Assistentes Sociais reuniu quase 700 profissionais e estudantes para comemorar uma década de encontros, duas décadas das diretrizes curriculares da Abepss e oito décadas do Serviço Social brasileiro.
Com o tema "80 anos do Serviço Social Brasileiro: a defesa de um Projeto Profissional sob bases emancipatórias", a programação iniciou na tarde do dia 19 de maio, com a realização de sete oficinas temáticas promovidas pelos Grupos de Trabalho e Comissões do CRESS.
Com as salas cheias, foram aprofundados temas que vem sendo desenvolvidos nas reuniões mensais nos grupos de trabalho temáticos da Saúde, Assistência Social, Previdência, Educação e SócioJuridico e nas comissões de Ética e Direitos Humanos, Comunicação e Formação e Trabalho Profissional.
A apresentação cultural na abertura dos dois dias do 10° EGAS contou com a participação do Grupo de Dança Restinga Crew, que buscou valorizar a população jovem negra com este projeto de inclusão social através da arte. A história deste grupo inicia em 2002, através do resultado positivo de um projeto de inclusão social envolvendo a arte. Surge então, um dos mais expressivos grupos de dança de rua original do Estado do Rio grande do Sul.
Entidades reforçam defesa da democracia
A defesa intransigente da democracia e a posição contra o golpe político-midiático e o governo ilegítimo de Michel Temer deram o tom das falas dos representantes das entidades da categoria na mesa de abertura do 10° EGAS, na noite do dia 19 de maio. A palavra de ordem "Fora Temer" foi entoada diversas vezes pelos participantes.
O diretor do Curso de Serviço Social da Escola de Humanidades da PUCRS, professor Francisco Arseli Kern, que não mediu esforços para sediar o encontro, saudou a realização do 10° EGAS e divulgou a “Mostra do Serviço Social no Brasil e no Rio Grande do Sul: 80 anos contribuindo para transformar realidades e viabilizar direitos”, que fez parte da programação do encontro. Segundo ele, foram recuperados documentos disponíveis nos arquivos que expressam a identidade do serviço social no RS. “Os 80 anos de história do Serviço Social no Brasil e no Rio Grande do Sul se confundem com as lutas por uma sociedade mais justa e igualitária, com ênfase na defesa intransigente dos direitos sociais. Nossa profissão sempre foi compromissada com outro mundo e nos propomos a continuar contribuindo para resgatar a história e mudar vidas”, salientou.
O representante da Executiva Nacional de Estudantes em serviço Social (ENESSO), Michael Lambert, também saudou o encontro e falou da importância de ser realizado neste momento em que é preciso garantir as trincheiras de resistência, representada pelas entidades presentes na mesa de abertura. A professora Suzana Sapiras, do Fórum Estadual de Supervisão de Estágio em Serviço Social (FESSS), também parabenizou a realização do 10° EGAS e desejou que o encontro contribua para o crescimento da profissão.
A professora Dra. Mailiz Garibotti Lusa, da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS Regional Sul I), analisou que o momento atual, frente a essa crise aguda do capital, é uma busca por fundos públicos e por um mercado que está em disputa pela classe dominante. “Manobras vem retirar os fundamentos da democracia, que está posto no projeto ético-político que defendemos. A quebra da legalidade e dos princípios institucionais tem como plano de fundo econômico a intenção de abarcar nossas riquezas naturais. Nossa categoria construiu um projeto de profissão que tem a liberdade como princípio”, destacou.
Em nome da ABEPSS, a professora parabenizou todos e todas assistentes sociais que assumiram nestes 80 anos e vem reiterando sua defesa da classe trabalhadora e da democracia, bandeiras que hoje são mais do que necessárias. “Precisamos mais do que tudo a articulação entre as entidades da categoria. E foi essa unidade que nos fez realizar várias ações neste canto gaúcho. Temos uma profissão com um projeto hegemônico muito ameaçado e que necessita muito destas entidades e da nossa luta em sua defesa. É preciso muita ousadia e sonhos nestes tempos de resistência”, concluiu.
A conselheira do Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), Maria Bernadette de Moraes Medeiros, também saudou o encontro e cumprimentou a todos pela data comemorativa. A conselheira salientou diversas lutas dos assistentes sociais nos últimos 80 anos e a importância das/os assistentes sociais na garantia das políticas públicas. “Nessa história reconhecemos o nosso campo, o nosso lado. Uma história que se faz de circunstâncias, mas também de escolhas, e estas certamente não foram as mais fáceis, mas nos preenchem de identidade classista e nos faz ser o que somos aos 80 anos”, afirmou.
A mesa de abertura foi encerrada pelo presidente do CRESSRS, Alberto Terres, que afirmou que estes 80 anos nos leva a uma viagem ao passado, para reavivar as nossas memórias a partir da história construída pelos profissionais de SS na defesa intransigente de uma sociedade mais justa e igualitária. “Ao longo desses 80 anos, o Serviço Social se reinventou e se reconceituou buscando romper com o conservadorismo do seu surgimento e com o tecnicismo do seu desenvolvimento. O Serviço Social é hoje uma profissão que construiu seus referenciais teóricos e metodológicos, com base nas análises das mazelas advindas do capitalismo que produz as desigualdades e saqueia os direitos da classe trabalhadora”.
Segundo ele, ao longo da história, a categoria foi protagonista das maiores transformações societárias ocorridas no país. E citou, dentre elas, a luta contra a ditadura e pela redemocratização do Estado brasileiro, pela construção do SUS como uma política universal igualitária e estatal e do Sistema Único da Assistência Social. Também destacou os objetivos de garantir a proteção social à família, à infância, à adolescência e à velhice, assim como, a luta das mulheres pelo desafio da transversalidade de gênero no contexto das políticas públicas, a histórica luta dos negros e negras contra a discriminação e o preconceito racial, que oprime e adoece esta população, também o racismo institucional praticado pelo Estado brasileiro que tem vitimado milhares de jovens negros nas periferias das metrópoles.
Nesse sentido, defendeu Terres, é dever profissional e de cidadania de cotidianamente avaliar a conjuntura social, política e econômica do nosso país. “Não podemos nos omitir desta tarefa, haja vista, que é neste cenário que temos que garantir a continuidade das políticas públicas conquistadas nos últimos anos. Estamos vivendo momentos de muitas incertezas na conjuntura política no país, incertezas estas, que colocam em xeque um dos valores mais caros da nossa sociedade, que é a democracia. Desta forma, temos o dever de nos manifestarmos de forma veemente contra a quebra constitucional que ocorreu no último dia 11 de Maio. E nessa conjuntura, estamos assistindo em menos de 15 dias do governo golpista, emergir das profundezas do conservadorismo, o desmonte das políticas públicas conquistadas nos últimos anos. A composição do Ministério do Sr. Temer, e não vou chamá-lo de Presidente, pois não o reconheço como tal, é uma composição machista, racista, homofóbica e misógina”, afirmou.
Terres finalizou convidando a categoria para participar dos Movimentos Sociais, Fóruns, Frentes e Conselhos, a fim resistirmos a toda e qualquer tentativa de eliminação dos direitos conquistados pela classe trabalhadora.
A noite do dia 19 foi finalizada com a mesa Memórias do SS Gaúcho: 'Trajetória Histórica da Profissão no RS', que reuniu professores pioneiros e com uma importante militância no Serviço Social gaúcho e foi coordenada pelo Conselheiro Vice Presidente do CRESS, Agnaldo Engel Knevitz. A mesa contou com a participação da Profa. Dra. Leônia Capaverde Bulla (PUCRS) que fez um resgate dos 80 anos de história da profissão, e de professores pioneiros na formação gaúcha que receberam uma singela homenagem. Estavam presentes Jorge Gilberto Krug, Vini Rabassa da Silva, Darly Salazar Pereira, Norma Zambrano Prates e Sérgio Antônio Carlos.
Projeto Ético Político foi o tema da Conferência de abertura
A Conferência de Abertura foi realizada na manhã do dia 20 de maio. O tema 'Projeto Ético Político: dos fundamentos aos desafios da materialização com direção crítica”, foi desenvolvido pelas Profa. Dra. Jane Prates (PUCRS) e Profa. Dra. Marileia Goin (CRESSRS/UNIPAMPA), e mediada pela Profa. Lizandra Passamani (CRESSRS/UPF).
Logo após, o painel “Formação e Trabalho Profissional: desafios e tendências”, contou com as painelistas Profa. Dra. Alzira Maria Baptista Lewgoy (UFRGS) e Profa. Dra. Ana Lúcia Maciel(PUCRS). Coordenação e mediação da Profa. Dra. Mailiz Garibotti Lusa, da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS Regional Sul I).
O 10° EGAS contou ainda com a riquíssima Roda de Conversa “Lutas e Resistências: O protagonismo político do Serviço Social Gaúcho”. Assistentes sociais engajados em lutas sociais nas mais diferentes áreas falaram sobre suas militâncias embasadas no Projeto ético-político do Serviço Social. Levaram sua contribuição a AS Letícia Chimini do Movimento dos Pequenos Agricultores, a AS Leila Aparecida Cunha Thomassim do Movimento Sindical, a AS Lins Robalo da luta LGBT, a AS Lisiane Queiroz Dorneles da Luta Antimanicomial, a AS Laura Coimbra de Oliveira da Habitação e Questão Urbana, a AS Maura Camboim da População em situação de Rua, a AS Fernanda Vicari dos Santos da luta das Pessoas com Deficiência, a AS Adriana Severo Rodrigues da luta pela Igualdade Racial, a AS Rosane Bernadete Brochier Kist da luta pelo Idoso, o AS Giovane Antônio Sherer da luta com as Juventudes, a AS Cristine Jaques Ribeiro da luta pela Questão Ambiental, a AS Maria Helena Castilhos da luta pelos Direitos Humanos, a AS Maria Valéria Carvalho Simoes da luta pela não violência contra a mulher, atuando com homens agressores. E contou com a contribuição da Profa. Dra. Patrícia Krieger Grossi que é professora da PUCRS e coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Violências(NEPEVI) e o Grupo de Estudos da Paz(GEPAZ) e mediação da Profa. Dra. Loiva Mara de Oliveira Machado (CRESSRS/UNIPAMPA).
A mesa de encerramento reuniu representantes das Entidades Representativas da Profissão (CFESS, CRESS, ABEPSS, ENESSO e FESSS). Em suas saudações, todos parabenizaram a realização e o sucesso do 10° EGAS e reforçaram a continuidade da luta em defesa da democracia.
E o 10° EGAS chegou ao final com as canções de luta do grande músico gaúcho engajado nas lutas sociais Pedro Munhoz. Quem ficou pode ouvir músicas e poemas que exaltam um novo amanhecer com justiça social e igualdade de direitos. E desfrutaram do bolo comemorativo dos 10 anos do EGAS e dos 80 anos do Serviço Social brasileiro.
Foto: Emilio Speck